sexta-feira, 20 de maio de 2016
[semi-automático]
orienta-me entre as nuvens e pedaços acesos do último adeus. hoje nadei nas profundezas lentas da minha própria incompreensão de estar aqui. que fazemos quando agora é lento? e sabemos perdidos os amantes e os corações de relva e sol. são só perturbações à superfície, dizemos que a montanha é primordial, é premente a purificação dos corpos, do mundo, do humano. por momentos apenas, para algo mais. algo mais que tacteio e cheiro do fundo da solidão. eu sei, que há tanto para saber e nos perdemos no desejo. o nosso corpo de carne quer-se aéreo. beija-me agora as asas que não tenho. gostaria de sentir de novo que poderia sentir -
os póros, os horizontes afundados no peito, palpáveis e leves, aqui
a pele, e não sabermos de amanhã
brisa quente e estradas encadeadas, miragens de calor e do sangue sem rédea dentro das veias
sem tempo, isto de escrever sem tempo com o tempo inteiro dói
tinha planos de te gravar tanto que não saberás
na ausência acontece tudo isto
é uma aproximação tão ínfima do sem palavras do real
tenho visões de cidades e noites, e cordas arremessadas contra um fogo e falármos soltos de pretéritos, pretéritos só para rirmos outra vez no ouro conjurado de dias perfeitos
(gostava de ter a certeza que sou um cântico que faria chorar as cinzas amanhã dispersas sobre a terra)
mapeando o mundo, as mãos incertas e humanas
eu sei que vou correr o mundo inteiro só para aprender que tenho tudo aqui
e aí irei chorar saber-me irreversivelmente humana
a despeito da montanha
a despeito do gelo
e do sonho de asas e de permanência.
*
o núcleo revolvido, retalhado, redimido, conspurcado
na solidão soubémo-nos humanos e ninguém mais viu
( era preciso plateia?)
*
Toda a vida aqui tão perto, a vida leve e plena, a flor, a flor.
*
[dor primeira]
Um dia nunca estive aqui.
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