domingo, 26 de junho de 2016
descambarei um dia por todas as horas carcomidas
eu não sei mais estar aqui
ouvi o som de alarmes ao meu redor e mais ninguém ouviu.
eu fecho os olhos. não sei como vim parar aqui
até a esta nuvem, até a este peito comprimido,
sem ar, e quero amar, quero ser dois
*
na cabeça estão espinhos e sob o meu chão areia e estou descalça, estou descalça e a areia arrepela. queria poder caminhar sobre o mar, ou ter meu corpo a flutuar nele e a cabeça à tona
que só é imenso tudo isto, a vida sobre a terra. e estas noites. eu não tenho coração para estas noites
eu antevejo abandonos, eles giram no meu olhar como uma maldita presciência que só eu poderia saber. é atroz. no fundo de mim ainda sonhei juventude e noites abertas em flor.
sou de outra matéria?
é tão imenso todo este espaço que não posso preencher. eu viro-me para ontem. eu viro-me para ontem e engulo as areias dispersas sobre o chão. e escorrem pela garganta e assomam melodias do estomâgo à cabeça do coração e tremo de novo. tremo de novo mas nunca poderia voltar lá. eu sei. porque sei que nunca poderia ser. só fui no mar. e na montanha. e no vento sob a pele numa corrida. num beijo ( lábios a que não posso voltar)
não possuo a arte para escrever o que morre. e o que chora quase resignado de ser humano.
não, não pode ser só o mundo.
são as cordas. as vertigens. o amor enlameado.
sou condenada. e olho todos os dias para os olhos do meu carrasco.
*
[Pandora]
há um lugar onde a humana se recolhe, como um pássaro ferido.
as asas golpeadas, as asas trémulas e vencidas
mas ainda uma esperança coberta de melancolia
que se sabe precisamente esperança - insidiosa sua raíz
que rompe e o ser respira, só para voltar a afundar-se de novo.
MF
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