quarta-feira, 22 de junho de 2016









[escrita semi-automática]
20/06/2016   2h25




Rudolf Bonvie - Dialog



sobretudo está no ar todo o mundo que não dizemos.
não sei se esperas que pergunte o que esperas para dizer. talvez sejas tu também que estás à espera que eu rebente a Espera e diga aquilo por debaixo das tábuas. o chão está cheio de areia. entre as tábuas espaçadas a cave nossa que escondemos. fingimos ambos que aquilo que pisamos é um chão. passamos por cima do silêncio, calamos o silêncio de se falar mas ambos o ouvimos - e somos a contradição plena de não o dizer ouvindo-se ele entre nós. 
são os nossos corações. 
o silêncio que fala é o nosso coração abafado contra as tábuas. elas estão podres de tudo o que calamos. eu não me movo um passo para não quebrarem e veres os meus lábios, todo o meu corpo, de acordo com esse silêncio pressentido. eu quase ouço - vem, fica, agora que a cama só tem um corpo, meu corpo. agora que preciso de ti vem. agora que estou só vem. agora que não parece haver muros vem. mas deixaste-me um dia à porta da tua casa sem poder entrar. 

somos um para o outro praias de infância e simultâneo , avesso, inesperado, imprevisível mar. 
eu dizia que amava o sobressalto de cair e o sangue já não ser de mim mas um autónomo grito do fundo da existência, uma fonte, terma sem dono. 

mas agora tenho medo de ficar sem ar aquando o embate das marés negligentes. 
não te sei. nem te soube talvez, senão num microsegundo perfeito em que nada havia para saber senão estares lá.  perfeitamente em mim. eu dentro de ti, sem nos tocarmos. em algum lugar talvez agora esquecido em ti.




MF



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