sábado, 27 de maio de 2017



27/05/2017
Às vezes tenho medo de deus. De me ver aos olhos de deus. Porque não possuo a sua graça. Sou esta mesma criatura de carne e sangue que superestimou o seu próprio espirito. Este continua preso à carne. Preso aos espelhos. Este continua refém do reflexo, da imperfeição. Ainda não sorri com a ideia das manhãs límpidas e de como é filho do céu. Ainda preso à forma, ficou cego do coração. 
- Olha o outro. Estende a mão. Antes de ti. Estende a mão, esquece-te, por favor, de ti. Não olhes compulsivamente para o teu corpo. Olha compulsivamente para o teu espirito. Não o deixes. Mergulha-o noutro amor. Num amor sem vista. Num amor que te no silêncio e te amacia os sonhos e te embala antes de dormir. E não tenhas medo - que um amor que foge ante a imperfeição nunca foi Amor.
- Não tenhas pressa de fugir para não te sentires pesada. Não tenhas pressa de um amanhã mágico que te liberta porque a libertação permanente está na emergência ativa da tua consciência. Acordada, olha as farpas e a dimensão que lhes dás. Lembra-te de ti, na época da tua maior luz desinteressada. Estavas no caminho na altura, quando mais sorrias. Quanto menos te fechavas nesse EU, EU, EU.
- Tens de ser imperfeita e caminhar o teu calvário. Eu acho que ele te corrige, por caminhos tortuosos ele te corrige. Vês? -  A tua dor não é de perto nem de longe tão profunda como julgavas. Trabalha sobre o teu espírito com a mesma persistência com que trabalhas o teu corpo… e para isso para - fecha os olhos para te ver. Fecha os olhos e medita.


(Sussurro) - Tenho medo de ser tao frágil.
 E todos os meus medos parecerem tornar-se reais.

 E na altura da primavera é um mau tempo…


MF

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