segunda-feira, 5 de junho de 2017

Eu hei-de escrever um poema
Sobre o teu corpo branco debaixo do meu
E ser mulher agora
Ser lembrança, amanhã
Eu não sei como as pólvoras retornam à quietude do não ser
Por enquanto, elas explodem no meu corpo
E eu só sei quão certo é o fogo
Quão reconciliado é o momento
E o desejo não é teia
O desejo é a vida inteira
A propagar-se, imiscuir-se
Por cada pedaço de corpo
E a minha voz sem palavras
Atravessa o quarto
E juro-te que não sei de amanhã
Nem de ontem,
Somente agora
Apenas uma vontade de também não saberes
De amanhã ou de ontem
Somente agora
Então agarro-te noite dentro
Pela vida que em mim há eu juro-te ali:
 - Que eu morri algumas vezes
mas essa dívida saldou.

To TS
*

Depois de entender a vida, hei-de entender a morte, eu tenho o coração grávido de querer ser luz. Eu hei-de rir, mais do que rio hoje. Eu hei-de voar assim como os bandos ao fim do dia. Eu hei-de rir das paredes mudas e dos rostos vazios.

Sensualidade é um conceito corporalizado, disse. Se soubesses os céus nos lábios e no aperto, e já não sei quem fui…

Só tenho medo que um dia não tenhas nada para dizer. Medo do silêncio vazio entre amantes. Medo do medo. Medo de quebrar a promessa que fiz a mim mesma : a honra, a vida, a transparência pura da verdade.. Num qualquer acidente do espírito, fossa escura e densa, abismal, perder-me nas areias do cansaço. Quando fui explosão em pólvora lenta e total. Agora ouço. O som que me fez chorar a olhar para as estrelas. Quebrada pelo amor. Salva pelo amor. Amor, que nos fizeste, eu não sei se te sei mas sei que te sinto. E se te sinto, se te choro, se te oro, se te envio esta imagem de mão ao peito, de tarde límpida e pura, coração acalentado, coração abraçado pela existência inteira, não um universo frio mas um universo cálido de luz, Acredita-me. Uma nota lenta que desce até ao coração, e a melodia outra que fazemos em conjunto, com o fundo de segurança na memória mais funda do coração. Eu canto. Eu danço hoje, às portas de uma manhã sem fim. E as palpitações rápidas já não são das corças perseguidas sem esperança. São as veias insufladas de um sangue novo e puro, criança. Desaguada nas veias, a vida, a mulher, a criança, a criatura absorta agora, porque ouve - o silêncio de paz nas entranhas do mundo. E como todos os jogos e ficções à superfície não acordam esse silêncio da sua quietação intemporal. Não calam, não vencem, o benigno, a esperança, o amor.

Eu juro-nos – um dia fomos um dia feito de lágrimas confundidas com riso. Fomos tudo sendo vida, e na melhor das hipóteses, se nos doermos, sejamos uma primavera assim, atravessada por uma lágrima que nos sinaliza no caminho sem fim de aprendermos a ser humanos. No amor. 


MF


Sem comentários:

Enviar um comentário

  [Serás humano até ao fim] caminhas tocando as paredes numa divisão obscura os caminhos múltiplos, as escolhas pressionadas por um tempo de...