quarta-feira, 11 de outubro de 2017



ora, as cruzes pesam
com todos os sonhos idos
desmedidos, inconcebiveis aqui
abstratos pássaros feitos de ar mais intocável que o ar
uma miragem
uma impulsão
um coração bombeando outro coração
este coração, herdeiro desse velho
abstrato coração
tinha a textura das rosas
o perfume dos ceús
tinha as asas de um anjo
invocando o futuro mas sem futuro
nascido, desabrochado
de uma fé quase criança
e labaredas singelas

não se sabia do medo
nem de que o mundo se podia dividir
numa visão inconcebível à razão
(mas sussurrante ao espírito)

nós parámos num limbo
e hoje só há hoje
travado numa incompreensão
estranhamente familar

e não sei da luz, mas sei da natureza da sombra
então incorro, arrasto-me, aninho-me
dentro da vida em mim

(há de haver asas que nos despreguem desta cruz.
de um peso tão vivo que esmaguem o peso morto)



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