Coração, és Caçador solitário, vagueando passivo mas sensível, através de uma floresta demasiado vasta para os teus pés, demasiado escura para que possas caminhar sem tropeçar nos teus próprios escombros e demasiado densa para que possas perscrutar além da distância sem que te iludas com as formas que se advinham nas sombras. O silêncio lúgubre inspira temor, mas caminhas solene, abarcado por melodias cálidas dentro de ti, sinfonias que te levam para outro espaço cheio de luz, abarcado por memórias de outro tempo em que não eras caçador e vivias sem saber que vivias...
Confundiste quimeras com algo real e quase morreste de êxtase nesse momento, por achares teres encontrado aquilo pelo qual tropeçaste e caminhaste tantas milhas nesta floresta. Mas recuperaste desse falso alarme, dessa falsa felicidade efémera. Assim, procuras incessantemente por algo que não sabes mas que almejas tão ardentemente... É isso que te faz caminhar, passo a passo, por trilhos
solitários. Pensaste estar perdido muitas vezes, mas de novo te encontraste,
instintivamente talhando caminhos, norteado por uma força dentro de ti,
sapiente e misteriosa, que te guia sem realmente guiar. Afinal, és tu o caçador, procurando talvez, outro Caçador sem lastro. Outro Caçador...Talvez juntos descubram que o que procuravam foi encontrado. Talvez juntos descubram que são o fim da caminhada e o descanso merecido. Talvez juntos
descubram que vasta não era a floresta, nem tampouco assombrosa era a escuridão - Afinal, vasto era o sonho e o ímpeto universal de caminhar e explorar fora de
si;
Afinal, a escuridão era a solidão de cada coração...
MF
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