sábado, 8 de novembro de 2014




16:37




[Entendimento e Integração]

   Sofro pelo excesso de informação que sou incapaz de processar. Pela avidez proveniente do fundo do meu ser, de saber algo que quero saber - a busca por um entendimento, o forjar de uma filosofia única no seu todo, porque todas as partes singulares já foram pensadas antes de mim. O tempo desgasta a cada manhã, este corpo que quer aprender a deixar-se ir um dia, a deixar ir os tumultos passados, aprender a matar a nostalgia e entender aquilo que dança furtivo e se desvanece repentinamente, jazendo esquecido como um sonho, ante a mente, no precipício da resposta ao maior dos enigmas, à maior das adivinhas.  Tenho, diante mim, uma verdade à minha espera. Mergulhei nos abismos internos esperando achar espelhado a luz externa, luz difusa não convertível em palavras. Luz que possa ser acedida por caminhos do pensamento previamente traçados e assim reconhecíveis. Desvanece-se como um sonho, assim é. Há algo para entender que me foge desta maneira. Preciso de saber, para não me afundar em juízos superficiais inteiramente ilusórios e abatimentos banais, mundanos, e sim correr livre e cheia de entendimento e paz. Ausência de medo e paz;  Paz não é do que quero que seja feito esse entendimento, como um anseio cego de um religioso desesperado ou um egocêntrismo irrisório como se o mundo  fosse de paz merecedor e o propósito maior tenha de ser a felicidade porque dela necessitamos; é sim o que sinto, de forma instintiva, ser a veste consubstancial da maior revelação.
   Sofro também pela incapacidade de me integrar visceralmente, de me fundir ao mundo, às pessoas ao meu redor, aos seus hábitos, aos seus prazeres ou até às suas dores banais. Não peço nem quero o mundo inteiro, quero integrar-me num mundo microcósmico, que se se transmuta em todos os ideais meus, que se adapta a cada ângulo distinto, a cada cor, a cada essência eterna minha. Um mundo, apenas um mundo além de mim, um mundo externo onde me verter, onde as palavras flutuem inteligíveis e obtenham eco. Talvez quando dois seres se apaixonam seja isto que seja criado: Um mundo a dois, integradas plenamente as ideias, os medos, as paixões, os desejos e os sonhos mais arrebatadores. Um mundo sem tempo. Um mundo sem lugar neste, só de um nós. E tudo se apaga. Cala-se o burburinho caótico mundano e faz-se pouco da solidão porque basta uma só alma pura para nunca mais nos sentirmos sozinhos, nem haver espaço para a dissociação, fragmentação esquizofrénica que se enraíza no interior de um humano solitário à procura de ser dois ou mais na asfixia assombrosa da caixa em que existe.

MF





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