sexta-feira, 7 de novembro de 2014





[poetas]

nós somos de outra espécie.
sucumbimos a abismos avistados por dentre as brumas da existência
sucumbimos a poços inventados do nosso excesso de sensibilidade
sofremos o mundo, sofremos sem saber o que sofremos
amamos mais que os outros, choramos as marés que nos levam para o vácuo
tudo aquilo que fomos, tudo o que poderíamos ser.
lutamos mais que os outros, porque somos estranhos neste mundo
queremos tempo para ser, para extrair da vida a vida
mas não há tempo, nunca temos tempo
recebem-nos, cedo de mais, os lagos e a terra
deixamos para trás as palavras prementes, arte para o futuro lato
temos de escrever, esvaziar-nos de cada peso, fazer tréguas ocasionais
mas nunca somos leves, carregamos o peso de sermos nós
a nostalgia árida do que nunca vimos, do que nunca sentimos
e as miragens minguantes de um outro tempo em que éramos vivos e não escrevíamos.

MF

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