aqui está o fogo, bebe. aqui estão as estrelas cujos nomes alguém inscreveu a sangue. aqui está a terra onde me sepultarás.
longíquos dias, travessia de
séculos, noites perdidas na inutilidade irrequieta dos quartos-minguantes. aqui
estou, perdido para sempre, sozinho, quase sem mim, a evitar o pior.
pego num cigarro, fumo-o
sofregamente. desejo-te ainda. se o telefone tocasse, se batessem à porta, se
me apetecesse sair daqui.
já não estou contigo nem com
os outros. eles estão vivos, movimentando-se. eu não sei se estou vivo,
imobilizo-me. os cães ladram junto à janela, ouço-os cada vez mais longe.
AL BERTO, "O Medo"
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