domingo, 9 de novembro de 2014







   Queria sentir-me humana, mas nada importa, só importa a minha serenidade, a minha estabilidade. Nada espero. Em torno de nada ergo expetativas porque tudo finda. O que tiver de vir, chegará. Não correrei, nunca mais. Estou aqui. As coisas boas vêm quando a alma está receptiva a elas e não se encontra afundada no seu próprio lodo, turbilhão de medos e saudosismos. Dissipou-se o caos em mim, os tremores suscitados por aquilo que só eu sei, foi melhor assim. "O que tiver de vir, chegará" -  Reconhecê-la-ei. Só espero que não esteja demasiado fria, demasiado plácida para me mover nesse momento. Não me importo de receber os fogos que me farão viva e me envelhecerão no final, face atroz de uma mesma moeda, pois sei que vou erguer arte a partir de cada cinza remanescente, se esta for digna da minha sensibilidade. São raros esses fogos, tão raros para mim, eu que filtro o mundo e o encaixo nos meus padrões. 
   Há um vazio em mim, procuro encontrar a razão. Talvez seja a solidão, uma solidão intrínseca que nasceu comigo e não se contenta com menos do que uma alma que me veja através de mim, que vibre nos mesmos tons. Só quero mais uma alma que veja algo tão simples como as bases do meu ser. Alguém que veja por detrás das palavras e compreenda o que ficou oculto, subentendido por dentre os versos, aquilo que se advinha como galáxia humana solitária capaz de amar com cada átomo do seu ser, mas que aparenta ser tão ausente da vida, tão parca de emoções. Alguém que veja que morreria se me tirassem as palavras, os livros e o piano. Alguém para ler estas palavras e se sentar comigo, enquanto componho uma melodia que preencha o simples momento em que dois seres estão em sintonia e tudo se silencia, ao ponto de quase ouvir a nossa essência e a repetir nas teclas em sinfonias, transmutações físicas ondulantes provenientes do centro vago que desconheço dentro de mim, mas é puro; fazer a melodia de nós e gravar-nos no ar, numa combinação intercalada de sons que fazem tremer frequências onde os nossos pensamentos navegam, onde o nosso coração se sente vivo. Não há palavras. É outra terra.


MF

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