terça-feira, 5 de maio de 2015

Caça


"Presa"

As minhas dores são como a chuva. Vêm e vão, deixando poças, para o sol secar.
As minhas lágrimas são como o fogo. Ardem ferozmente nos meus olhos, mas esgotam a lenha num ápice e o fogo apaga-se, como se nunca tivesse existido.
Os meus sonhos são como a terra. Densos, pesados... mas acima de tudo, repletos de vida.
Os meus sorrisos são como o vento. Voam, imparáveis, pelo (meu) mundo, propagando-se.

Sou os quatro elementos. Sinto o mundo como uma extensão de mim. Tudo o que existe não me transcende, preenche-me.
Sou, na minha ínfima existência, superior. Mas não sei nada. Já não serei, quando souber.  


"Caçador"


Somos todos animais, no nosso íntimo, não importa com quantas peles revistamos o corpo. Dentro de cada pessoa, há um caçador esfomeado e caçamos as nossas presas de todas as maneiras... nem que seja mascarando-nos delas. Há guerra. Há terror. Há medo. Há escuridão dentro de cada um de nós.. Todos somos capazes dos feitos mais horríveis, se levados ao limite. Moldamo-nos, recriamo-nos, mas o Caçador mantém-se. O desejo mantém-se. O lado animal, irracional, puramente egocêntrico, mantém-se. Corremos o mundo, inutilmente, à procura da presa que nos sacie a fome de vez. Alimentamo-nos da carne de mil seres, bebemo-lhes o sangue em busca das suas essências mas, em nós, não sobrevivem e rapidamente precisamos de mais.
A consciência, o arrependimento, o conformismo, não melhoram nada. Como num poço sem fundo, só podemos  acolher a escuridão e deixá-la preencher-nos por completo.


PN




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