Quedo numa melancolia milenar onde fito o deslizar
leve das estrelas nos campos noturnos e me deito inerte nas longas estepes sem
um tempo que as curve ao seu labor. Estepes estendidas por milhões de
distâncias e sempre a abóbada estelar. Lá fora preferem o sol, dizem, e as ruas
da cidade férteis em rostos desconhecidos familiares, e fortuitos olhares e
amores e histórias. Há carros e passos apressados, noites esquizofrénicas e
dias sempre iguais, sempre iguais e com estranhas renovadas vontades não sei de
quê, não sei pelo quê ou para quê.
Cá dentro não há dias nem noites.
É um pedaço sem tempo e as estrelas murmuram eternidades e o momento em que as olho estou morta e esquecida da vida, ao mesmo tempo que se me enche o peito com todo este silêncio.
É um pedaço sem tempo e as estrelas murmuram eternidades e o momento em que as olho estou morta e esquecida da vida, ao mesmo tempo que se me enche o peito com todo este silêncio.
Silêncio...
este planeta é império forrado a silêncio
mas as vezes movem-se vozes no ar que me chamam de volta. Vozes, amigos ou
fantasmas que me lembram da minha outra existência. Há muito tempo, há muitos
corpos atrás. E levanto-me deste solo de ervas e farpas que se intersubstituem
sem tempo que as distinga, transmudando-se mutuamente, mal me ferindo, eu que
sinto numa exterioridade a mim, quase fora de mim, em razões sencientes e no
forjar de possíveis vidas no ar.
Cá dentro é plácido.
Às vezes belo, às vezes atroz, quando o cérebro tem noção das horas e as ervas se transformam em gumes que ferem resquícios de uma sensibilidade semi adormecida. Nesses momentos lembro-me da minha outra vida e levanto-me, por mim e por todos os que me chamam, levanto-me. Levanto-me e desprego os meus olhos deste céu silente que me inebria e apaga o mundo, doce canto de sereia; os pés pesam o tempo, é tão difícil sair, o rosto ainda não é rosto, é tão difícil sentir. Este céu é eterno e do outro lado tudo se desfaz, tudo aqui é parado e lá fora é caótico.
Puxam me. Para a semana há festa. "- Vem. Gostamos tanto de ti."
"- Não sei como ainda insistem convidar-me"
"- Porque gostamos de ti."
Às vezes belo, às vezes atroz, quando o cérebro tem noção das horas e as ervas se transformam em gumes que ferem resquícios de uma sensibilidade semi adormecida. Nesses momentos lembro-me da minha outra vida e levanto-me, por mim e por todos os que me chamam, levanto-me. Levanto-me e desprego os meus olhos deste céu silente que me inebria e apaga o mundo, doce canto de sereia; os pés pesam o tempo, é tão difícil sair, o rosto ainda não é rosto, é tão difícil sentir. Este céu é eterno e do outro lado tudo se desfaz, tudo aqui é parado e lá fora é caótico.
Puxam me. Para a semana há festa. "- Vem. Gostamos tanto de ti."
"- Não sei como ainda insistem convidar-me"
"- Porque gostamos de ti."
Deus. Tenho de sair daqui.
Sairei, com este corpo desabituado do som e do mundo.
Sairei, mas por favor: galvanizem-me à saída, na fronteira mais próxima da
vossa cidade. Habituei-me pois, a viver sob outras estrelas e a inventar
três mil vidas no seu mural. Amo-as porque já morreram e ainda brilham e
ocupam este céu. Não me choram se eu as parar de contemplar, estão mortas e nem
sabem que as vejo. Apenas os humanos choram. Apenas os humanos clamam por
atenção,
então levanto-me. Abandono este altar e dou-me ao
mundo.
MF
MF
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