sexta-feira, 3 de julho de 2015







porque se matam os anjos? quando as suas almas ainda luzem
como lustrosos candelabros aos olhos de outros,
sensíveis às sinfonias tímidas
que sobressaem magnas do seu silêncio quase divino
e aos olhos fictícios de uma exterioridade simulada de si;
porque se matam os anjos? quanto ainda jovens
desbravam a terra e
mergulham os sons e as cores dentro de si
onde estas renascem novas e transcendem a sua própria inércia
os anjos sim, fazem a poesia e morrem-se
numa secreta morte
e tornam-se os rostos apagados,
e as mãos esquálidas enquadrando os rostos, as línguas caladas:
para quê falar, para quê falar?
os outros não ouvem as canções
tampouco vêem as runas de fogo que germinavam
no seu ser aquando um pôr do sol
ou as imagens em movimento de dias passados
que choram ao longe porque são quadros a óleo
massacrados por fluídos acres que corroem
os rostos e os fios que os ligam ao coração
o anjo disse - "só tive o dom de sentir as histórias 
que não eram minhas, por isso foi imperativo amar "
oh deus, que não há futuro agora ou não parece haver
que triste é viver e ser o único a ver as estrelas
nascerem e perecerem nas nossas mãos
temos filtros nos corações e lágrimas incógnitas
temos corpos, temos mal, temos bem,
temos os sonhos que nos matam a meio da noite
porque não lhes podemos dar corpo de manhã;
temos o fogo que nos faz vivos e nos derruba o peito no final
e somos soldados sem batalha deambulando por hábito
ou apenas anjos a querer voltar a Casa,
mas só depois de fazer algo belo, só depois,
mesmo que o universo colapse
e o tempo regresse ao seu começo sem começo,
recuando até ao tempo sem tempo nenhum,
absolvendo todo o sal, e nada se passou aqui
e fomos um sonho de deus. as lágrimas e risos de um deus.


MF





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