[ESCRITA AUTOMÁTICA]
22 de Agosto
*
(1h06)
(1h06)
No teu berço descanso. Nas brandas
mãos a bradar ao tempo que me queima. Seríamos símbolos, rugindo em fogo e aparando mil frémitos existenciais, sanando loucas feridas de excessiva luz. Corroerias as naves, as texturas de puéreis sentidos, logro ser-te o mundo e
num suspiro cair para sempre contigo até ao inferno das ondas e das estepes
languescentes onde o tempo se dobra e nos amamos.
Oh como cantamos e dançamos
nesse hiato esquecido, nessa terra mítica de mil evaporações e expedições
finais... Movem-se montanhas na insigne ânsia de desocultar o dia. Resgatar a infância que na bruma se
desvaneceu, e todo o Amor que o mundo esqueceu de tanto se vestir de ferro, de
tanto degustar as feridas, calcar o sangue, calcar as asas e fazer jorrar sal
de fontes sem razão. Oh deus, não sabemos,
nunca soubemos... porque matámos o Paraíso? Agora fá-lo comigo, ainda que ninguém
o veja, nós sabemos - ele está cá.
*
(1h15)
(1h15)
Aperta-me contra o teu rosto e
chora. Provar-te-ei as lágrimas e saberei também que é por isso que estamos cá –
para infiltrar em nós a pesada dor, e devolver um beijo que nesse coração
ressuscite um tremor.
Estou hoje calma e não sei
porquê. Evadi-me em mim e no céu, semeio a brancura dos espaços desocupados
onde renasço. Inspiro e sinto e corpo a sanar durante a noite, como se a
superfície se acalmasse segundo uma terna melodia interna quase muda que na
respiração se encaixa e promete nunca mais quebrar. Mas quebra sempre,
inevitavelmente - aquando um rasgo de contaminação externa, mundano, aquando a destabilização
sanguínea de uma paixão e a dor de ter alguém a viver em mim.
*
(1h25)
(1h25)
Já não durmo, nem esqueço, nem
recordo. Desliguei-me de qualquer coisa que nem sei, e nem sei se a alguma
coisa estive ligada. Apenas sei que me senti inteira, e o corolário do medo foi
não querer morrer. Vem. Vem saber o que jaz adormecido e quer voar dentro do
fogo. Imagino-nos todas as noites quando não consigo dormir, e movo mil
vontades dentro de mim de desobstruir todas as cidades até ti.
Lancinantes as névoas que te decrescem, fazem-te dentro castelos de cimento e ficas sem espaço para o teu sangue.
Lancinantes as névoas que te decrescem, fazem-te dentro castelos de cimento e ficas sem espaço para o teu sangue.
MF
pb
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