quarta-feira, 28 de outubro de 2015






23 de Outubro, 0.49h

  Pudesse eu pegar na tua mão, a mão de quem não sei, a mão de quem não sei que exista agora, a mão abstracta de um messias pessoal, a mão de um humano mais que a mão de um deus, porque a primeira emana calor; pegar na tua mão, fazê-la atravessar o meu peito, fundir-se à carne para rodear com os dedos arrasados, a insegurança avassaladora do meu coração. Acalmá-lo, dizimar o que adjetivo de "medo", o terror de agora, não o das corças feridas com as pupilas e sangue dilatados, mas um terror lento omnipresente, latente, nuvem carregada sobre mim, ameaçando pestes e tiros que sobressaltarão os pássaros que poisaram numa rara primavera que veio até a mim, até a mim. 
Tristeza lenta, que caminha pelo rasto indelével de todas as perdas físicas e imateriais. 
Parece que possuo uma anti-gravidade que afugenta as coisas para longe de mim. Treino-me para aceitar perder, mas sou humana. 
Queria saber pintar esta visão: Uma mulher prostrada, a cabeça baixa, as mãos unidas numa espécie de oração ou derrota final, e um monte de gente em torno dela, abraçando-a com os rostos velados virados para a câmara, formando todos um sólido humano, uma pirâmide do sofrimento humano.
 Desconheço essas mãos, o humanismo,
mas é uma bela imagem, dramática, mas bela. 


MF




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