quarta-feira, 28 de outubro de 2015



Marguerite,

Há duas juventudes num quarto qualquer. Amantes por uma hora.
Ela está despida, o soutien azul contrasta com a sua pele morena. Ela percorre o quarto. Ele está sentado olhando para ela. Ela fita a janela. Um piano sobrepõe-se às sirenes da cidade. O céu cinzento está semeado de pássaros rasgando, desenhando o ar.
Ele espera. Ela pergunta, sem o olhar - Não sentes saudades do Amor?
Ele responde que não sabe o que dizer. Sem surpresa.
Ela vira-se, caminha lentamente até à sua retaguarda,
- Não te vires, diz ela,
- Fecha os olhos, diz ela,
- Imagina que eu sou a mulher que amas, imagina...
E ela envolve-lhe o tronco nu com o seu abraço, rodeia-o como uma corrente, afaga-lhe docemente o cabelo. Vira-se. E defronte dele, beija-lhe a testa que encima um rosto sereno, com os olhos fechados. Senta-se no seu colo, enrosca a cabeça no seu peito, como uma criança, pega-lhe na mão e coloca-a no seu próprio coração. Ficam agora em silêncio. Ambos de olhos fechados. E só ouvem a respiração lenta um do outro. Tocam, o frio calor um do outro.
Duas juventudes despidas, num quarto qualquer.
- Não sinto nada, diz ele, suponho não ter a imaginação necessária.
- Eu sei, diz ela, eu sei....não sentes saudades do Amor?



MF


Nota: Inspirado em Marguerite Duras

Interpol, narc (Paul Banks remix) -  https://www.youtube.com/watch?v=q8aP-RjLzCI




2 comentários:

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