sábado, 17 de outubro de 2015



[ESCRITA AUTOMÁTICA]

17.10.2015

(Entropia e umbrais)



(1:40 - 2:20h)
*

A entropia, furtivamente entretecida, imiscuída num éter qualquer que calca e sangra e desarruma o universo; entropia astral, entropia secular, entropia em todo o lado, sob a pele, entre as veias, no sangue e na linfa e nos espaços intersticiais; entropia, o lixo, a seta de sentido único para o infinito devagar, até ao colapso, entropia, o excesso de onde germina a decadência e enleio, entropia sem nexo, de incógnito começo ou fim, o caos a abarcar o ser todo pela idade sufocado, pelo tempo e visões de inevitável morte e incompreensão; o excesso de tudo, a falta de tudo. A irreversibilidade. A desordem. A ilusão de que já houve ordem. Houve? Na idade sem idade. É uma pergunta que me assombra. Talvez, num Princípio Unificado. Princípio de tudo. Depois a expansão, cumulativa de tudo, macro e micro caoticidade. Agora só há entropia e o suor permanente sob o seu jugo, a energia que se esvai na tentativa diária sem descanso entre os segundos, de arrumá-la para que nos fira antes outro dia.



*

Há uns membros descolapsados no céu e viajens anónimas de sereias cansadas. 
Há trigos plantados no sérum inacabado de últimas virtudes e trejeitos mórbidos de mil medos.
Há infâncias perpetuadas no ar e aquecidas de novo nas noites sem ninguém onde os leões rugem e se movem coisas indistintas, lascivamente prepotentes e paradas num destino sem tacto ou razão.
Há umbrais e taças de luz onde o ser encurvado se dobra na paisagem magra e perenemente morta, com águias a sobrevoar (sedentas e pacientes) o seu ainda ténue brilho patente na sagaz sede do seu corpo e no seu olhar. Foram sedes imemoriais, privações não humanas, mais que humanas. Pesos sobre as costas mais que humanas, de tão humanas, por tão humanas, frágeis e destinadas ao quebranto, à curvatura excruciante sob pesos imateriais da emoção sobre-carregada, da sensibilidade sobre-desenvolvida e mais que pura.

(Bebe-se ali não sei o quê. Está cansado mas mantém-se vivo, 
para recordar, para se purgar?)



MF




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