segunda-feira, 14 de dezembro de 2015



[Escrita semi-Automática]

14 de Dezembro

ela (?) responde-me ao chamamento de dentro. Eu estou no fundo vago da despedida que se contém. Eu sou a caixa perdida no mar e no espaço das coisas, que se dizem perdidas sem saber. Eu amo dizer, as estrelas, eu amo a música que sangra entre os espaços do meu silêncio. E sei andar, aprendi a andar sem me lembrar dos movimentos. Seria uma lição de voo, poder voar antes de andar. Cantamos no cimo do universo aqui, no meio da Terra. Entro na caixa e ouço as coisas, todo o templo do passado, do presente e do futuro que sempre será, semelhante a si mesmo. São tesouros nivelados, do Espírito humano, unidos por fios invisíveis e que transcendem dicionários. Conceitos que são os próprios conceitos sem possível tradução, porque mundos, porque são movimentos de emoções, histórias, fragmentos de sentidos e memórias, que resumem-no, são seus fractais. A Solidão, o Amor, esses Todos, com mil e uma raízes e projecções verticais, são temas incorporados nas próprias leis naturais, como a harmonia que é sincrónica ao espaço em que está, e é um fenómeno não divisível. O Amor é não divisível ainda que múltiplo, mil faces e só uma, algumas distorcidas ( e de que maneira) , faces cobardes, egóicas, ranhuras astronómicas no tecido sagrado. Aprende a amar, aprende a voar, fecha os olhos, os olhos enganam-te quanto à altura da queda, aliás, nem sequer é uma queda, é uma ascensão. Mas no ponto em que te encontras não sabes, que a queda é ilusão, vai ser invertida, e o teu sangue será plasma (o quarto estado da matéria), gravitando as estrelas. Serás leve, e todo o teu corpo estará vivo, cada célula. Todo o teu corpo será alma, e toda a tua alma será corpo, serão uma oração conjugada do céu e da terra. Teu corpo é Terra. Tua alma é Ar. Todo o teu ser é Ser. Todo o Amor te diz que o medo é invenção da linguagem, e do pensamento atrasado no lodo de mil centenas de enciclopédias, de tantos outros pensamentos aleijados. "Ouve um canto gregoriano, apaixona-te uma vez na vida", disse eu um dia, " e depois diz-me: se tudo é tão desesperadamente material e explicado".



MF


Listening to : 
- Joep Beving 
- Lambert



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