sexta-feira, 21 de julho de 2017








Memorandos 21 de Julho


(escrita semi-automática, 2.30h)


eu queria gritar no silêncio as visões perdidas

os pedaços caídos

as visões estendidas
o lençol de cores da minha-tua memória
e saber-me ao teu lado é o mistério que não compreendo dentro
e o mistério onde me afundo fora
ignoro profundo (?)
cai-me, o coração, mas eu ando pelos dias e vou até à ti e se apenas me segurasses de saber quem sou, se apenas me olvidasses da profundeza que me dói e amo pois nela me fiz 
mas não entendes? - esta lágrima atravessada na minha idade. esta lágrima peso bomba. cascata sem lágrimas. este céu triste no meu peito. este paraíso adormecido sem lugar aqui. eu escrevi-Te. e escrevi minha partida e escrevi minha (possibilidade) de chegada. eu escrevi (me), minha alma, e deixei-te os versos na tua mesa. aí mesmo ao teu lado. passaste sem os ver? dormes sem saber?- sobre o meu amor. sobre a minha alma. num sono que nada tem de poético, num sono que não me assenta no meu peito. procuro, vestígios urgentes da tua alma depurada em horas solitárias. procuro-Te a ti, vendo-me, lendo-me, pausando-te da superfície e do velho mundo que conheces desenhado a quatro paredes e um ecrã.
estou ao teu lado e não me vês. navego no mar profundo que cavei esperando achar. amputada do que não sei tentei agarrar uma mão, tua mão pintei de mão-deus, tudo em ti pintei de esquecimento e salvação. porque és um corpo feliz de silêncio. mas preferia ouvir-Te. preferia que te animasses de espírito a animar-Te nas notas tristes do meu sonho de alcance e trespassamento e fusão.



nada me resta a esta hora senão segredar-te, debitar-te a loucura que não conheces nem poderias saber. isto que dói sem Te poder dizer - o mundo e teu silêncio. o mundo e teu silêncio. o mundo e tua ausência perfazendo mais mundo, separando-Te de mim. queria Te de mim. queria Te da minha alma, queria Te fora deste mundo no paraíso nosso onde falamos noutro silêncio.

gravuras de vidro, oceanos estendidos entre mim e tu. impossibilidade perdida e refém de despedidas. eu vi finais em vida. eu despeço (me) (d)o calor pelo quê? eu sou humana mas primeiro sou o quê? para Te mandar assim embora de mim? (porque) primordial em mim esta lágrima que não se aguenta sozinha junto à ausência de ti contra mim. queria Te em mim. tenho as páginas escritas a sangue sobre a mesa e não as lês. estás acordado agora e não as lês. adormeceste outra vez?

bem sei dentro de mim que o que vejo em vida nunca esteve acordado, só dentro e é tudo, dentro e não chega.



*

eu vejo uma criatura tentando fundir dois eixos de dois mundos. um deles é muito denso, pesado, profundo. e apaixonou se pela leveza cega do outro eixo. e o casamento deu-se no sonho, mas (quase nunca?)/não na vida.
a felicidade dava-se nos bastidores amantes, nos bastidores sedentos de realização de outro amor. amor transmutante. amor asa delta. amor sentido até ao ínfimo, último grão, estádio de sentido. sentido em cada gesto, sentido abraçado, beijando cada eixo. 
o ferro rendido. vergado. fundido. 
essa crucificação, surpresa atónita, essa palidez mortal, dissolvida para sempre no sonho (sono?) profundo da alegria.



MF






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