dizem que quando sangras fazes as pazes com o céu
que quando sangras enquanto escreves das-te à catarse, sinalizas
a despedida
é um rito doloroso de passagem
através do fogo
e da mais inocente tristeza
"-se ao menos me viste"
diz ela,
"-nada foi vão"
e então ela sangra enquanto escreve
e no final está uma paz
banhada de lágrimas mas uma paz
porque Tudo não podia ser coroado pelo Nada
porque Tudo tinha de ser selado em lágrimas
ou não saberias
não intuirias o fim
essa palavra tão final
tão desumanamente natural
porque tudo finda afinal
mas retorna
mas não nós
nós somos finais
nós só ficamos semi-oníricos
na memória.
(metade da vida, metade da imaginação
ou quase tudo desta última?)
estes dias, amor, eu atravessei o mar
sozinha
estava sozinha e para ti estava contigo
e nada disto podias entrever
eu pergunto-me se irias entender
como as vezes já nem é um cataclismo nas engrenagens da cabeça e do coração
são meras imagens
que nunca poderiam ser
porque tu e eu somos antípodas
tu e eu somos a alegria e a tristeza
numa tentativa ridícula de fusão
numa tentativa de linguagem comum
dispersamo-nos. tu falas com palavras
eu falo com imagens que nunca verás
na antevisão do abismo que nos separa
e só nos tocamos à superfície do sonho
que ignora tudo isto que acorda ao mínimo choque da diferença
és alegre como uma criança e são como a vida mais puramente imersa e segura
que quando sangras enquanto escreves das-te à catarse, sinalizas
a despedida
é um rito doloroso de passagem
através do fogo
e da mais inocente tristeza
"-se ao menos me viste"
diz ela,
"-nada foi vão"
e então ela sangra enquanto escreve
e no final está uma paz
banhada de lágrimas mas uma paz
porque Tudo não podia ser coroado pelo Nada
porque Tudo tinha de ser selado em lágrimas
ou não saberias
não intuirias o fim
essa palavra tão final
tão desumanamente natural
porque tudo finda afinal
mas retorna
mas não nós
nós somos finais
nós só ficamos semi-oníricos
na memória.
(metade da vida, metade da imaginação
ou quase tudo desta última?)
estes dias, amor, eu atravessei o mar
sozinha
estava sozinha e para ti estava contigo
e nada disto podias entrever
eu pergunto-me se irias entender
como as vezes já nem é um cataclismo nas engrenagens da cabeça e do coração
são meras imagens
que nunca poderiam ser
porque tu e eu somos antípodas
tu e eu somos a alegria e a tristeza
numa tentativa ridícula de fusão
numa tentativa de linguagem comum
dispersamo-nos. tu falas com palavras
eu falo com imagens que nunca verás
na antevisão do abismo que nos separa
e só nos tocamos à superfície do sonho
que ignora tudo isto que acorda ao mínimo choque da diferença
és alegre como uma criança e são como a vida mais puramente imersa e segura
e sem perguntas. não fragmentado,
uno,
vejo te segurando uma criança nos
braços. perpetuando a ordem natural das coisas. sem medos.
não conheces esse tropeço do
espírito. dei por mim fora de mim. olhando me e chorando não me ter outra vez -
esquecida e sã e simplesmente aqui. como todos e tudo o resto
*
o desespero corre-me mas faz-me correr
em busca da vida que é cura de tudo isto
porque eu quero
seria morte não correr
haveria, por toda a eternidade se houvesse,
em busca da vida que é cura de tudo isto
porque eu quero
seria morte não correr
haveria, por toda a eternidade se houvesse,
encontrar as curas mais mirabolantes.
mais simples, mais complexas
sangrar todo o corpo e toda a alma
limpar meu sangue
de todos os humores baixos e negros
que me contaminam
mas o trabalho é expeli-los
retornar o corpo ao equilíbrio
são, grato, pleno
quero o oceano límpido em mim
o vaticínio foi - será uma luta
de ti contra a inércia
de ti contra o peso
e a cura prolongada está na prevenção das quedas
e por isso terás de correr
sair
ver o máximo do mundo que puderes ver
toda a beleza, singularidade, vulgaridade
tudo sem julgamentos menores
tudo para te alimentar e trabalhares
não podes ter férias
dos trabalhos interiores e exteriores
o teu equilíbrio depende disso
de viveres cada porção.
sangrar todo o corpo e toda a alma
limpar meu sangue
de todos os humores baixos e negros
que me contaminam
mas o trabalho é expeli-los
retornar o corpo ao equilíbrio
são, grato, pleno
quero o oceano límpido em mim
o vaticínio foi - será uma luta
de ti contra a inércia
de ti contra o peso
e a cura prolongada está na prevenção das quedas
e por isso terás de correr
sair
ver o máximo do mundo que puderes ver
toda a beleza, singularidade, vulgaridade
tudo sem julgamentos menores
tudo para te alimentar e trabalhares
não podes ter férias
dos trabalhos interiores e exteriores
o teu equilíbrio depende disso
de viveres cada porção.
cada frequência, cada ângulo, na sua
própria conta, medida.
subtilmente saberás
o tempo que disporás para ti e para o mundo
o tempo que disporás para ti e para o mundo
e quando a solidão te for casa,
fizeste tudo bem
e o amor está em ti. a toda a tua volta
tem fé
e o amor está em ti. a toda a tua volta
tem fé
*
agora sei- não poderias nunca tocar-me…sem o tacto das
plumas
sem um conhecimento sensível da tristeza mais funda
das ideias mais fundas de inocência
sem um conhecimento sensível da tristeza mais funda
das ideias mais fundas de inocência
-
o tacto que te colocasse no lugar intermédio
clarividente
entre a tristeza e a alegria
tinhas de por um pé na tristeza para me poderes chegar ali
porque a tua leveza profana
não sabe a sapiência desse abraço
- sem palavras
e com o aperto certo
entre a tristeza e a alegria
tinhas de por um pé na tristeza para me poderes chegar ali
porque a tua leveza profana
não sabe a sapiência desse abraço
- sem palavras
e com o aperto certo
MF
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