domingo, 2 de dezembro de 2018



LOST IN TRANSLATION 



Em ti aninhada eu sinto que poderia viver 
(a vida e a paz no meu sangue outra vez) 
mas no mundo sinto a falta 
o peso, a vertigem, a ameaça
um elemento desencontrado, dimensões polares 
dois planetas impossíveis de juntar
perco na tradução toda a substância do desamparo
também eu estou num hotel estranho
numa passagem que se demora
filosofia ao balcão, um homem mais velho
(também estrangeiro) sussurro ao ouvido não sei o quê, 
'que voltas na vida me vão trazer?'
vagueio por Tóquio, amnésia profunda
shoegaze de fundo como a voz do meu deus
o sangue fraco, o sangue mais luz,

 instantes plácidos, instantes alados
(instantes são lágrimas amanhã)
soube ontem e sinto hoje 

- todo o fogo se apaga amanhã
eu estou à janela, 

o rosto velado (poesia da sombra do que não se vê)
a câmara roda só há tudo gira (menos eu)
fitando a cidade, 

brincando no quarto , 
enganando a descrença, 
à espera do meu amor,
imerso na vida (amén)

eu ria nas fotos mostrava os dentes, agora menina fria e calada
só agarro a mão a um homem perdido, somos irmãos
sem rasto de volúpia no coração
quando a hora aperta 

procuro o berço 
na voz mais nua
olhos do mesmo vácuo,

olhos da mesma espera 
amanhã não será melhor
então mato o meu deus
mas tenho um abraço
um homem mais velho,
igualmente perdido
imitação de um deus 
desaparecido.



MF




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