quinta-feira, 9 de setembro de 2021

Notas sobre o cansaço e a vontade

 

Abadias, 4/5 de Setembro 2021

 

Orfeu

 

Lamentaste pelo fogo fátuo

Os lugares gastos

Infâncias da carne

Acordei de sonhos

E pensei a tentação do sono

Ficar

Suicídio passivo

Até despertar

e flutuar no mar nessa mesma manhã

O ímpeto da vida sobreleva se afinal

Ao cansaço

 

/

Persefone

 

No outono precoce da minha idade

A minha angústia era

Persefone

E Hermes,

O Amor

 

Orwell e Rolls Royce

 

Ser feliz era aparência

Celofane

Viagens e fotografias

Deste lado,

Aceitamos que somos pobres

Separados do luxo por nascimento

As lágrimas nos olhos

Passadas e futuras

As lágrimas antevistas

por todas as perdas que ainda não foram sinalizam

A fulcral lição

A fulcral união

A riqueza é a areia nos teus pés

Um livro no teu colo

A corrida ao início da manhã

As rugas que te fazem humana

A imperfeição que aceitas finalmente

Deitamos fora os relógios

O labor e o suor acompanham nos

Os corpos são máquinas no mundo

E templos neste segundo

Até seres humano é uma viagem

Um sobressalto corre te amiúde no sangue

Como a escuridão que assombrava os teus antepassados

Os desejos são cruzes

Em Kyoto

A excessiva corrente de pensamentos não te firmam

Nesse instante de paz

O paraíso de Borges

Caótico

Que não podes perseguir,

Agarrar, extorquir

É o instante e a memória que fica


As vezes flutuamos

Quando esquecemos

(Amanhã é uma seta lançada para um país longínquo)


//

(Vivemos juntos numa casa

onde não nos cruzamos)

Eu hoje escrevo porque ontem o meu corpo adoeceu

De te esperar

Obstruído o espírito

No lamaçal de uma falsa permanência

De dias insuportavelmente iguais

Quando se tem aves no sangue

E sonhos na cabeça

As janelas são necessárias

A luz natural, o sol, o silêncio

O vinho e as vozes humanas

O tempo dos nossos avós

Nunca divididos ou confinados

Pobres mas ricos ao serão

O cheiro a pão

A vida despida de jóias e colares

De destinos e prestações

De carreiras e televisões

Há uma lareira e uma cadeira de baloiço

E um volume poeirento de o Monte dos Vendavais








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